Eu não tomava banho frio. Não gostava de sentir a água gelada bater no meu corpo avisando que eu estava ali. Durante todo esse tempo estive afundada em mim mesma e em todos que em mim encostavam. Sempre ia uma parte minha. E nunca voltava. E isso me irritava, me tirava a estribeira. - "Não!" é o que eu dizia todas as inúmeras vezes que a vontade de trocar a chave do chuveiro de "inverno" para "verão" aparecia. E eram poucas vezes. Eu acostumei com o inverno. Não fazia questão em mudá-lo e quando ela vinha, eu dizia a mesma -"Te aquieta que eu sei o que bem faço!". Mas no final eu não fazia nada. Me acostumei. Tinha me tornado o próprio inverno. A pele queimava, e eu não sentia. É curioso como nos acostumamos com o podre, não? Ele é mais fácil. De manter. E só. Meu corpo se recolhia assim que eu ligava o chuveiro. No primeiro cair da água me vinha o arrepio e o gelo. Depois ela se acostuma e rapidamente se aquece. Fica difícil respirar. O banheiro fica trancado impedindo que o vapor saia. E fica mais difícil ainda de respirar. Uma janelinha se abre para que você respire, mas assim que o vento toca sua cabeça vem as dores de ouvido pelo contato rápido entre o frio e o calor extremo. Como isso é possível?
A vontade de mudar a chave hoje veio. E aconteceu. E foi inexplicavelmente melhor. A água caiu, veio, o meu corpo enfrentou e pediu socorro, mas não entreguei. Dessa vez não. Eu teria de enfrentar o inverno se quisesse me sentir melhor. Aquela situação não me levava a nada e nem me ajudava em nada. E foi a única que eu encontrei durante anos. Mas não. -"DESSA VEZ NÃO!" é o que eu repetia batendo os pés contra a água, com o corpo arrepiado e os ouvidos doendo pela sensibilidade.
Ao cair, ela foi esquentando. Durante o dia o sol deve ter tirando o seu gelo e deixado só o frescor. E só deixei que acontecesse, que caísse, que fosse pelo ralo, que ela fosse por si encontrando a temperatura exata, e com um pequeno ajuste de volume de água ela conseguiu. Aliás, nós, nós conseguimos. Não vou tirar o meu mérito nessa história.
Ela continuou caindo, e eu a sentia, mesmo que com pequenos cortes de volume de água ela acabasse por ficar mais quente ou mais fria, eu ainda deixei que acontecesse.
A vontade de mudar a chave hoje veio. E aconteceu. E foi inexplicavelmente melhor. A água caiu, veio, o meu corpo enfrentou e pediu socorro, mas não entreguei. Dessa vez não. Eu teria de enfrentar o inverno se quisesse me sentir melhor. Aquela situação não me levava a nada e nem me ajudava em nada. E foi a única que eu encontrei durante anos. Mas não. -"DESSA VEZ NÃO!" é o que eu repetia batendo os pés contra a água, com o corpo arrepiado e os ouvidos doendo pela sensibilidade.
Ao cair, ela foi esquentando. Durante o dia o sol deve ter tirando o seu gelo e deixado só o frescor. E só deixei que acontecesse, que caísse, que fosse pelo ralo, que ela fosse por si encontrando a temperatura exata, e com um pequeno ajuste de volume de água ela conseguiu. Aliás, nós, nós conseguimos. Não vou tirar o meu mérito nessa história.
Ela continuou caindo, e eu a sentia, mesmo que com pequenos cortes de volume de água ela acabasse por ficar mais quente ou mais fria, eu ainda deixei que acontecesse.
Deixei fluir, deixei cair.
E não me arrependi. Não até agora.
E não me arrependi. Não até agora.