sábado, 20 de março de 2010

+ Anna made the world turn blue.

"Please don't wake me, no
don't shake me
Leave me where I am
I'm only sleeping
".

Era o que Anna diria à sua mãe todas as vezes que a acordava para ir ao colégio. Era difícil pegar no sono, ele sempre vinha depois das 2 da manhã e ela precisava estar sempre disposta e acordada às 6 horas em ponto. Até a rotina matinal ser concluída, ela teria 30 minutos apenas para banho, o café e a escolha da roupa. Não que ela se importasse tanto com isso, diferentemente das suas amigas de sala de aula ela raramente aparecera com algo a mais no corpo: nada além do uniforme. Era o suficiente.

O café era algo indispensável. As olheiras acusavam a madrugada mal dormida, e ela precisava de um energético para a deixar em pé o dia inteiro. Além das aulas pela manhã, ela teria mais alguns trabalhos a tarde. Ela não era o tipo de aluna excepcional, e a matemática sempre fora o seu maior problema. Gostava de história, amava a geografia e achava a filosofia e sociologia duas matérias importantíssimas. "O que são números perto da complexidade da vida? Eu não me importo qual o número é o número atômico de um elemento, ou então qual a massa total do planeta. Eu quero sentir e entender as palavras de um livro, quero poder escrever a minha história e dizer no final que tudo isso é o que sempre quis e consegui!". É o que diria se perguntassem o porquê de suas notas baixas em matemática sendo uma aluna aparentemente tão dedicada.

Nunca lhe faltara nada. Absolutamente nada. Ela sempre teve (não digo apenas em questão material) tudo o que precisou. Apesar de ser um pouco menos exigente comparando-a com suas amigas um tanto quanto exageradas e extremistas, ela apenas precisara daquilo que realmente usaria. Não gostava de extravagância, muito menos de brilho. Era minimalista em quase todos os aspectos, principalmente na maneira a qual se vestia. Um jeans, uma blusa e um tênis all star era o suficiente: aquilo era confortável e a deixava bem.

Ser sociável é algo que sempre foi. Mas dentro de si havia um eterno vazio, uma eterna procura a algo inalcançável. A felicidade não era porque sempre acreditou que felicidade demais é um veneno. Não procura pela felicidade eterna porque sabe que ela é inexistente. Apesar de que às vezes era o que mais pedira e sonhara... Era o modelo de amiga, o modelo de namorada, o modelo de caráter e inteligência mas dentro de si havia sempre aquele vazio que gritava: eu não tenho serventia alguma.

Isso obviamente acabava com sua relação dentro de casa. Brigara por muitas vezes com sua mãe, as duas eram idênticas. O porquê das brigas, é algo inexplicável. Eram palavras jogadas contra uma planície de impaciência que por vez transformavam-se em avalanches perigosas cheias de palavras mescladas com fogo e maldade. Dóia cada avalanche daquela. Não só de um lado, ambos. Com isso era sentia-se falsa consigo mesma: lá fora, a aluna aparentemente excepcional. Aqui dentro, a filha insatisfeita e incompreensível.

Durante uma época de sua vida, tudo passou a mudar. O minimalismo relacionado à sua maneira de vestir passou a decair-se e ela sentiu que isso a mudara. As amigas continuavam ali, lindas e deslumbrantes: e ela queria fazer parte daquele meio. Mesmo que fosse contra seus limites e regras: ela queria entender o porquê daqueles sorrisos que vira estampados nos rostos delas. Toda aquela alegria, talvez momentanea, a deixara por muitas vezes com um sentimento que evitara ao máximo: inveja. Por mais baixo e mesquinho que seja, ela sentira inveja daquela felicidade. Mesmo que momentanea, ela queria sentir aquilo. Pudera Anna entender um pouco menos das complexidades de sua existência. Pudera ela colocar-se naquele meio. Por mais que tentasse, no final de todas as festas ela chegava em casa e o vazio a contaminava. O lápis de olho deixava com os olhos baixos e fundos, e toda aquela noite sumira diante de seus olhos.

Pela manhã tudo continuara. O café totalmente indispensável era o seu maior aliado. Assim recomeçava-se toda uma rotina. Um ciclo vicioso onde a beleza de ser o que é a orgulhava mesmo se a noite destruisse o seu padrão. Ela queria ser assim e amava toda essa contradição.

Viver os dois lados era sua maior diversão. Afinal, now nothin's gone to waste for sure.

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