terça-feira, 16 de março de 2010

+ Fragmentos de um sonho.

Preciso definitivamente dormir mais.


Ela sabia que antes daquele gesto acanhado, ele a consumira inteira com o olhar. Fazia questão em mexer os cabelos e mostrar-se tão pouco interessada. O relógio acusava o atraso. Cinco minutos era o suficiente para quebrar todo um clico de rotina. Mas valeria a pena, até então o dito cujo não possuira um nome e ela não inquietaria até descobrir.
Faria então, tudo de forma planejada: seria reciproco a troca de olhares, deixaria cair algo ao lado o que consequentemente os levaria a uma sucessão de fatos óbvios: o agradecimento por ter em mãos o objeto caído acidentalmente, logo a mão vazia estendida para uma apresentação. Tudo monstruosamente e femininamente bolado. Sei que ele entendera o sinal, por isso apanhou o objeto milésimos após o acontecimento.
Voltando à mão vazia estendida: apresentações feitas. O relógio apitava e acusava novamente o atraso, mas não importava. Ainda não conseguira o que queria. Ele fazia questão em não falar o nome. Fora uma apresentação feita a olhares, um oi e um aperto de mão. Ambas suadas e trêmulas.
O convite ao café logo fora feito e obviamente aceito. Ela não parava de olhar ao relógio e ele nos seus olhos. Era tudo estranho: duas pessoas que jamais se viram sentadas em um café sem trocar uma palavra em mais de 10 minutos. Apenas a vontade de estar lá permanecia. Até que a frase sai. A primeiríssima, vinda dele, após as apresentações feitas por olhares:

- Eu tenho sentido você em mim e eu nem ao menos a conheço.

Tudo então se encaixara. O porque da permanência dela ali, sentada, tão pouco preocupada com o horário. Era ele a ânsia que a consumira e a indicava o lugar todos os dias. Algo fora do padrão de qualquer entendimento racional. Entendera então o porquê da sucessão de fatos estranhos ocorridos desde que saíra de casa: o ônibus atrasado, a enorme fila do banco. Antigamente era tudo devidamente cronometrado. E hoje ele quebrara isso.

- Se sou o que tens dentro de ti, por que não me disse seu nome até agora?

Um gole na xícara de café e a resposta:

- Como diria algo que não sei? O que sei é o que lhe disse, cara: eu sinto você comigo, mas não a conheço. Esperava alguma resposta sua.

E novamente o relógio apitara. Meia hora de atraso, estava tudo tão confuso. A rotina quebrada e um maluco em sua frente. Um maluco incrivelmente fascinante. O nome, uma incógnita. O porquê de sua estadia ali, o motivo para sua insistência e, perguntar seu nome.

- Vamos, diga-me! Todos nós temos um nome! Não me venha com frases feitas achando que irá me convencer.. Um nome é tudo o que lhe peço!

Não queria demonstrar-se ansiosa. No seu conceito era sinônimo claro de fraqueza.

-Ora bolas, para quê um nome! Estou aqui a entender o porquê de tê-la em mim e queres um nome? Eu esperava que me dissesse isso!

45 minutos no relógio e ela começou a balançar as pernas. Sinal de ansiedade! Ele percebera, suspirou e disse:

- O que sei é que sou o que faz de você ser o que é.

Ela sentiu todos os seus sentidos àquela hora. Nunca esteve tão viva. Sentido-se assim, disse:

- Mas até agora não sei o seu nome. E como você poderia ser algo que me faz ser o que sou?

Inquieto, ele disse:

- Sou o porquê de sua eterna busca a algo inexistente. A sua inspiração. Perdi-me dentro de você e se tenho nome ou não, já não sei mais.

Ela sentira a garganta seca, e quando deu o primeiro gole no café, viu-se sozinha na mesa. Tremeu-se de ansiedade.

De repente tudo desaparecera e ela estava acordada ali: na sua cama com os lençóis desarrumados e o relógio acusando o atraso. Era um sonho.Olhou para mesinha ao lado e vira a xicara de café, os livros e o trabalho que levara para a casa. Mas não vira ninguém ao lado da cama, o que acusava de vez o sonho. Levantou-se, foi ao banheiro, lavou o rosto e sentia aquela ansiedade novamente.




Seu nome era saudade: o sentimento sem nome, inexistente, misterioso e persistente.

5 comentários:

  1. Que belo texto, tu escreve tão bem *-*
    tão linda sempre escrevendo, expondo seus sentimentos. <3

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  2. que tantas saudades são essas?do que é toda essa nostalgia?um q de vazio...

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